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Indústria avança 0,3% em julho

No ano, contudo, setor ainda amarga queda de 3,7%, com 15 de 27 ramos pesquisados apresentando recuo na produção

Depois de meses em plena recessão, a indústria começa a dar os primeiros sinais de retomada. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção do setor avançou 0,3% em julho, a segunda taxa positiva mensal consecutiva. No acumulado do ano, porém, o setor ainda registra encolhimento de 3,7% em comparação ao mesmo período de 2011. Para analistas, a situação deve melhorar com a esperada recuperação da atividade econômica no segundo semestre, mas não o suficiente para salvar 2012 — a expectativa é de que a indústria termine o ano com queda de 2% na produção.

No mercado doméstico, as vendas e a produção industrial, segundo especialistas, têm sido sustentadas muito mais pela expansão da renda do que pelo crédito. As famílias elevaram demasiadamente o endividamento e estão com pouco espaço no orçamento para novas prestações. Esse desgaste do consumidor afetou negativamente bens duráveis, a exemplo dos produtos de informática, que apresentaram queda de 4,8% na produção em julho.

Outros ramos, voltados para o mercado internacional, enfrentam a forte desaceleração da economia mundial e o "pouso" da China, como os economistas definem o esfriamento da atividade no país asiático. Em julho, esse cenário se refletiu sobretudo na indústria extrativa mineral, que encolheu 0,1%, e na siderurgia básica, que diminuiu a produção em 0,8%. Sem poder contar com a força doméstica, o governo mudou a estratégia e deve anunciar ainda esta semana a desoneração da conta de energia elétrica de grandes consumidores, um estímulo para que as indústrias mantenham seus planos de investimento.

O novo fôlego industrial observado em junho e julho pelo IBGE deve se estender pelo menos até outubro e tem sido puxado principalmente pelos descontos de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para diversos produtos. A indústria automobilística, por exemplo, avançou 4,9% em julho e, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), apresentou números ainda mais robustos em agosto. O emplacamento de carros novos bateu recorde e cresceu 15,4%, alcançando 405,5 mil automóveis e comerciais leves no período.

Clima

"Esse avanço da indústria, de qualquer forma, é moderado. Estamos apenas no início de uma recuperação", observou Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria. "A redução de IPI foi fundamental. A produção estava debilitada e os incentivos ajudaram a queimar os estoques e a retomar a fabricação", disse. Na avaliação de especialistas, ainda que os estímulos tenham surtido efeito, não foram suficientes para impulsionar toda a indústria. O clima de recessão ainda persiste na maioria das fábricas. Em julho, de 27 segmentos pesquisados pelo IBGE, 15 amargaram retração, sobretudo os afetados pelo comércio internacional.

Para Mariana Hauer, economista do banco ABC Brasil, os ramos sensíveis ao comércio exterior têm sido afetados também por questões que envolvem a Argentina. "Os setores que apresentaram recuo no mês perderam exportação, principalmente para o país vizinho", argumentou. Pelos cálculos dela, o fluxo comercial entre brasileiros e argentinos encolheu 10,7% na comparação de agosto com  igual mês do ano passado.

Os segmentos de calçados e de vestuário têm perdido mercado para os produtos asiáticos, sobretudo da China. Mesmo com a despesa de frete, esses itens chegam ao Brasil a um preço inferior ao dos produtos nacionais.