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Dólar atinge R$ 2,45 e gasolina sobe até 10%

Diante dessa escalada e da perspectiva de aumento ainda maior nos próximos meses, o orçamento das famílias não terá sossego.

Moeda americana sobe 2,39% e alcança o maior nível desde dezembro de 2008, quando o mundo ruiu, devido ao estouro da bolha imobiliária dos EUA. Ata do Federal Reserve amplia o nervosismo dos investidores. Governo decide reajustar preço de combustível

 

Para decepção do governo e desespero dos consumidores, o dólar voltou a disparar ontem, atingindo R$ 2,451, a maior cotação desde 9 de dezembro de 2008, quando encerrou o pregão a R$ 2,473 para venda, no auge da crise detonada pelo estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos. A alta no dia chegou a 2,39%. Diante dessa escalada e da perspectiva de aumento ainda maior nos próximos meses, o orçamento das famílias não terá sossego. Não sem motivo.


Uma prova disso foi a decisão tomada pela presidente Dilma Rousseff, em reunião ontem com a presidente da Petrobras, Graça Foster, e os ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil), de aumentar o preço da gasolina. Serão dois reajustes. O primeiro sai até dezembro e deve ficar em torno de 10%. O outro, em 2014. Tudo para aliviar o caixa da Petrobras, que sofre com a disparada do dólar. 

Da hora em que o dia amanhece até o momento em que vai para a cama dormir, o consumidor sente o peso da moeda norte-americana no bolso. Da pasta de dente, ao pãozinho do café da manhã. Da gasolina do carro ao computador do trabalho. Do suco de laranja no lanche da tarde à ligação pelo celular para saber da família. Tudo está, de alguma forma, dolarizado. Nem mesmo o tradicional feijão preto escapa, já que parte do produto que chega à mesa dos brasileiros está vindo da China.

É essa a razão de os analistas estarem tão pessimistas quanto à capacidade do Banco Central de entregar uma inflação menor neste ano que os 5,84% de 2012. Dependendo do patamar a que chegar, R$ 2,50 ou R$ 2,70, a divisa dos Estados Unidos poderá impactar o custo de vida em até 1,5 ponto percentual. “O dólar afeta tudo”, observou Fábio Gallo Garcia, professor de finanças da Universidade de São Paulo (USP). “Pega qualquer produto que tenha componentes produzidos fora do país ou que tenha cotação internacional, como o café e o trigo”, emendou.

 Segundo Garcia, mesmo produtos exclusivamente nacionais são influenciados pelo dólar, sobretudo se forem exportados. Se custam mais caro lá fora, os empresários rapidamente os remarcam aqui. A estudante de medicina veterinária Ana Luísa Oliveira,19 anos, não tem a menor ideia do quanto a sua vida está atrelada à moeda. Ao acordar, os lençóis que cobrem a jovem, mesmo sem que ela saiba, foram impactados pela divisa dos EUA. No país, 33% dos têxteis são importados. No banho, novamente o dólar afeta a vida da estudante: parte dos compostos químicos do sabonete vem de fora.

Gasolina cara
Adepto de uma refeição mais leve pela manhã, o policial militar da reserva Raimundo Almeida, 70, troca o café da manhã por um shake de uma multinacional norte-americana. Para manter o hábito, porém, ele terá que desembolsar mais dinheiro em função da alta do dólar. O mesmo ocorrerá com o celular novo que pretende comprar. Quase 90% das peças do aparelho são importadas. “Já fiz uma pesquisa e constatei que os preços subiram bastante nos últimos dias”, contou.

O temor com o dólar é tanto no governo, principalmente pelo impacto na inflação, que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, cancelou uma viagem que faria aos Estados Unidos nesta semana. Ele se encontraria com outras autoridades monetárias em Jackson Hole, no estado de Wyoming, mas se viu obrigado a ficar no Brasil para monitorar os mercados. Ontem, o BC fez mais duas intervenções no câmbio, mas fracassou. Vendeu, no total, US$ 2,76 bilhões. No mês, a moeda norte-americana já acumula valorização de 7,4% e, no ano, de 19,88%.

Segundo os especialistas, a arrancada do dólar na quarta-feira foi estimulada pela ata da última reunião do Federal Reserve (Fed), o BC dos EUA). O documento trouxe mais sinais de que está próximo do fim o programa de estímulos à economia norte-americana. O Banco Barclays aposta que, já em setembro, o volume de US$ 85 bilhões mensais injetados no mercado seja reduzido e tenha início um calendário para acabar, totalmente, com essa oferta de recursos. 

“Se o Fed tivesse anunciado o fim dos estímulos agora, um dólar a R$ 2,50 seria barato”, avaliou José Roberto Carreira, economista da Fair Corretora. A alta ainda maior da moeda poderia levar ao estouro do teto da meta de inflação, de 6,5%. Traria também mais problemas para a Petrobras. Com o caixa já estrangulado, por vender gasolina importada a um preço menor do que paga, a estatal correria o risco de comprometer totalmente os planos de investimento e de ver o endividamento explodir.

A situação da petroleira ainda pode ser agravada pelos conflitos no Oriente Médio. Maior gestora de recursos do mundo, a BlackRock lembrou que, desde o ano passado, a instabilidade na região tem levado a “rupturas significativas” na produção e nas exportações de óleo do Irã, do Iraque, do Sudão do Sul, da Líbia, da Nigéria e da Síria. Quer dizer: os preços podem subir e a defasagem dos combustíveis vendidos pela Petrobras, disparar.

Para o pecuarista Manoel Correia, 43, um possível aumento do combustível motivado pela alta do dólar pode se transformar em um problema financeiro. “Dirijo, em média, 300 horas por mês. Gasto R$ 5 mil mensais com gasolina. Só a Brasília, é a terceira vez que venho em agosto”, disse. Antes de chegar à capital federal, ele abasteceu o tanque do carro a R$ 2,67 o litro, em Araçatuba (SP), onde mora, e se assustou quando chegou a Catalão (GO), onde o produto custava R$ 3,09. “Há um descontrole muito grande, e não vejo como mudar isso”, reclamou.


»  Imposto zerado

O senado aprovou ontem projeto de lei que zera as alíquotas do Pis/Pasep e do Cofins que incidem sobre o transporte público. O resultado da votação foi uma resposta aos milhões de brasileiros que foram às ruas em junho protestar contra os aumentos no serviço. O projeto segue agora para a sanção da presidente Dilma Rousseff. A expectativa é de que, com a medida, os custos dos deslocamentos urbanos em ônibus e metrô caiam cerca de 4%.